terça-feira, 7 de julho de 2009

Free way

Depois de toda aquela coisa traumática, que é arrumar as coisas e fechar a casa, lembrando de trazer cada item – que nos garantirá um perfeito veraneio! (desculpem, é o hábito dos comerciais) –, entramos na free way.
Que já foi, em outros tempos, estradinha maneira de chão batido, na qual se ia encontrando aquelas tendinhas que vendiam rapadura, melado decente e até chapéus. Agora, a gente sai – e nem precisa lembrar – tendo uma panorâmica de uma imensa favela, com suas crianças famélicas, seus cachorros tristes e seus cavalos maltratados. Tá, mas quem mandou olhar para esse lado, ora bolas? Do outro, tem um magnífico pôr de sol, aliás, o mais bonito, não é? (e... de novo, nossos comerciais).
Tudo bem, logo virá a Lagoa dos Barros e outra vez contaremos para as crianças (que não estão mais conosco, já que ficaram em Porto Alegre ou foram para a Ferrugem, e têm mais de vinte anos) as mal assombradas histórias da Lagoa. Da noiva que se afogou ali, com fusquinha e tudo, e hoje passeia impávida pela sua superfície sem sequer molhar os pés... Com sorte, poderemos ver, quem sabe, seu noivo, vagando e lamentando a perda da amada pelas suas margens.
Nenhuma dessas “histórias de terror”, entretanto, consegue se comparar ao macaquinho que acabo de ver, se arrastando em transe, com a pele de seu corpinho rasgada, queimada, no acostamento. Me parece que um de seus olhos sangra, mas o carro está a mil e não podemos parar sob pena de provocar um tremendo acidente. Fico puta e penso “pra que aumentarem ainda mais essa free way? Porque tiraram mais uma fatia do mato? Isso significará mais mortes de animais inocentes, e ajudará a aumentar o buraco na camada de ozônio, pois, além da perda da mata, mais carros...
E a coisa só piora. Agora é um cachorro, que para uns momentos à nossa frente, apavorado. Felizmente, a motora é boa, não vinha nenhum carro tão próximo e conseguimos travar. Só que... olha ali, ao lado: é um gato? um cachorro? quantos mortos na estrada...

Um carro passa como um vento ao nosso lado. Tento ver a idade do motora. Jovem? não, um senhor de meia idade. Obeso, levando a família obesa. Penso no exemplo que está dando para seus filhos. E logo me vêm à mente um fato que fiquei sabendo esses dias, conto para a motora. Em alguns países da Europa, jovens aproveitaram suas férias para construírem túneis, para que os animais das matas próximas pudessem passar a salvo para o outro lado. E as beiras da estrada ainda ficam cercadas.
Êta povinho, esse nosso!...

Mas olha que Tramandaí está chegando. E logo cruzamos a ponte para Imbé.

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